28 dezembro 2005


Rasgo a última página do livro deste ano. No íntimo, acredito que ainda possuo lenha para queimar. A porta continua aberta. Há um misto de dependência e de ilusão dentro de mim. Enquanto sentir este trilho há razões para cá voltar.
Se bem se recordam, no destapar da peneira, os autores deste blog assinaram, em uníssono, que a casa tem a porta às sortes. É uma singela invocação aos tempos idos do Barroso. Não porque ficou bem escrever e convidar mas porque acreditamos que este espaço só tem sentido pelo genuíno. Anotamos os comentários. Em nós, só ficam os que merecem.
Hoje subo ao monte crispado pela geada. Ao caminho gélido de uma noite sem lua.
Aos que cá entram há uma coragem nobre. Coragem que será sempre inimiga do medo. Em cada um, o recanto do desenho individual.
Voltarei no desabrochar do espigo.

16 dezembro 2005

Fado maior

Fado maior
Mandei às favas o canudo e fui direito ao fado maior. Naquele tempo, o meu colete de forças era a pena que ainda hoje amo. Porém, mudou a arte. O desarme não provoca plateias, o improviso é cada vez menor, sobra, a espaços, o amargo de boca espantado com espasmos como este.
O previlégio sempre veio ao meu encontro. Não sinto grande mérito da minha parte. Há aqui uma sina de porta aberta que me evita tropeçar.
Há em todos um livro. Frases soltas que podem ou não ganhar corpo. Nunca fui de mira fácil porque o meu mote é quase sempre construído ao calhas. Pelo meio, o horizonte é uma noite de céu limpo. O fecho casa, quase sempre, com a sorte. É nesta estrada que cruzo os ideais da infância com a crença perene do hoje. Sem conflito. Ganhou a força por dias melhores. Venceu a partilha, sustentada na convicção e no arrasto de mais alguém.

13 dezembro 2005

Áurea


Há uma áurea dentro de mim que não morre. Um ser que gravita sem parar. Um caminho desalmado que embala um passado de sorriso e dor.
Que cordão de fogo terás? Que ilusão preenche o teu caminhar? Será que ainda invocas o sopro do Norte, o rasgão da madrugada incessante?
Há em mim um clarão. Uma luz que apaga o desabrochar da aurora. Um respiro abafado. Um quadro sem tela.
Por vezes, volto ao cais. Empurro o vazio com um lampejo de prazer. Um vício devastador que não consegue sugar o amanhã.
Irás tu um dia ler-me? Terás, na tua mão, a proa dos dias felizes?
Lanço o nada sem ter a ingénua crença do reencontro.
Não fui feito para tocar o céu duas vezes.
O meu trilho obedece ao que não tenho.

05 dezembro 2005

Noites Passadas

São talvez as melhores amizades que se fazem. Aquelas que se criam em noites perdidas na conversa e nos copos, tainadas até às tantas, sem preocupação com os horários, nem com o despertar da manhã do dia seguinte...

Desde o fado ao futebol tudo se discute, e quando as garrafas e copos se começam a amontoar em cima da mesa, trazem consigo uma "fluidez " no discurso que o prolonga por vezes até o sol nascer.

Guardo boas recordações destes momentos onde se cultiva a verdadeira amizade, desinteressada...