15 novembro 2005

Cheiro frio

Calçada rural
De tenra idade percebi o valor do cheiro mais rural, menos urbano, mais cristalino, menos abafado. Era por lá que se cozinhavam os serões, as modas, a arte de prosear no mais cru dos sons. Nessa aurora, uma espreitadela pela calçada do lugar comunitário da minha aldeia vergava qualquer canseira. Recordo o centeio quente saído da fornalha que perfumava um dos locais mais míticos que já conheci. Lá no alto, quase sem norte, ouvia o zumbido, indefinido, de alguém que habituou os habitantes a desviar o olhar em direcção ao frio. Por essa altura a minha alma era um postigo sem fechadura...