29 agosto 2006

Embarque

Embarque

Cá estou eu. Tal como previa. Neste dia e a esta hora. Em volta, o odor brando do tempo antecipado.
Os olhos estão abertos. Falam no mais titubeante silêncio. É um falar sem voz. É um som que gira no interior da vaga que se aproxima.
Por cá, não há a maré da noite quente. Não tenho o estalar do mar.
Tenho o meu chão. O chão que piso. O chão que já pisaste.
Por esta altura há pouco na narrativa que coloque um sentimento a sobressalto. Acontece à custa da mais nobre das palavras: partilha; mesmo que o caldo do momento empurre a vaga do Verão que está a terminar.
Na volta, já não vais sentir o cheiro quente da maresia. Sentirás o olhar a rasgar-se na solenidade. Nada que te espante, nada que não prevejas nestes dois pares de noite.
Fiquei por cá porque é por cá que me sinto em enlevo. É a terra que amo. É a terra que me ama. E porque um filho deve sempre respeitar o pai, também eu zelo o tanto que recebo neste pedaço de Mundo.