25 março 2006

Chuva

Chuva

Volto com a chuva de Março. Com ela espanto o deserto dos dias pálidos. Tenho-me absorvido pela candura da normalidade. Um estado, sem armas, que me fez aterrar na brandura. Não tive o clarinete das manhãs amargas tão pouco o desgosto de um selvagem olhar das tardes rápidas. As noites não foram o despertar do rouxinol dos tempos onde o seco do escuro pede a pintura e a arte do amanhã.
Oiço agora uma voz que ecoa pela casa. Uma voz que destapei em 93. Ainda recordo o escuro da sala. Invoco a música, os olhares pregados no ecrã, o silêncio sem asas. Hoje consigo apalpar os acordes. Porém, as variações da voz não mudam. O que muda é o alcance do grito. Entra na casa dos sonhos como entra, tantas vezes, o que não tenho.
Paro com a sonoridade. Giro na envolvência. Crucifico os meus medos e liberto o que há de melhor em mim. Tal como na noite de 93, a chuva teima em cair...