31 agosto 2006

Grande resposta

Grande respostaOra aí está a grande resposta. De chofre. Crua e com a sonoridade das noites em desnorte. É a típica aposta onde se sabe que o erro vai vencer. Mesmo assim arrisquei na ingénua tentativa, estridente, de soltar os dias que ficam.
Com o que recebi, alastrei o caminho para a acidez da noite. Foi aqui que construí este curto texto no ambiente de outras noites. O que muda é o som da envolvência. Não da que tenho mas da que ouvi.
Por onde caminhavam os teus passos? Parar, na última noite, é coisa não justa e acredito que tivesses sido o cicerone da crueldade do desassossego. Fizeste bem. Fazes bem. O contrário é a inquietude perdida vertida em cântaro.
Que sejas digna da coragem do atendimento, sem rosto, que fizeste porque dentro de mim, hoje, há um rio, com lodo, a vaguear sem destino.

30 agosto 2006

Internacional

InternacionalA palavra não é nossa. Nunca o foi e duvido que o seja na minha existência. Não a vejo parir nesta terra. Há nela um voo sem rosto. Uma diabrura que fura o mais elementar dos egos.
Escutá-la da tua boca foi a mais desajustada tormenta que senti. O abalo levou-me para o tempo onde quase me afogou o verbo amar. Senti-me descer sem asas. Andei e sinto que ainda ano por lá.
Porém, hoje sair é mais fácil. Penetrei durante muito tempo no mar sem ondas. Acreditei que a nortada vinha sempre sem aviso.
Na minha infância houve sempre um farol dentro de mim. Só mais tarde, muito mais tarde, soube anotar que um olhar só apresenta relevo quando feito pela acalmia da erosão dos dias corridos.
É também neste tempo que recrio o teu quadro onde a palavra liberdade é muito mais que o valor da reciprocidade. Dizer-te que isto só me dói porque eu já lhe toquei e soube-me tão pouco comparado com a frescura deslumbrada do acordar.

29 agosto 2006

Embarque

Embarque

Cá estou eu. Tal como previa. Neste dia e a esta hora. Em volta, o odor brando do tempo antecipado.
Os olhos estão abertos. Falam no mais titubeante silêncio. É um falar sem voz. É um som que gira no interior da vaga que se aproxima.
Por cá, não há a maré da noite quente. Não tenho o estalar do mar.
Tenho o meu chão. O chão que piso. O chão que já pisaste.
Por esta altura há pouco na narrativa que coloque um sentimento a sobressalto. Acontece à custa da mais nobre das palavras: partilha; mesmo que o caldo do momento empurre a vaga do Verão que está a terminar.
Na volta, já não vais sentir o cheiro quente da maresia. Sentirás o olhar a rasgar-se na solenidade. Nada que te espante, nada que não prevejas nestes dois pares de noite.
Fiquei por cá porque é por cá que me sinto em enlevo. É a terra que amo. É a terra que me ama. E porque um filho deve sempre respeitar o pai, também eu zelo o tanto que recebo neste pedaço de Mundo.

11 agosto 2006

Cavaleira Andante

Cavaleira AndanteHoje vou falar de ti.
Nunca falei porque nisto há um misto de perda e inquietude que só agora habitam em nós. É como se o farol, há custa da intensidade dos dias felizes, produzisse cera, hoje derretida pela brancura das tardes quentes. E como está quente.
Por estes dias, o teu céu está escuro. Não foste tu que o fizeste tão pouco o aprecias, contudo, bem no fundo, sabes que espelha a semente que envenena a magia.
Também por estes dias, vi esse céu. Não lhe toquei porque fiquei diminuído pela força que ostenta. Um poder, bravo, que contamina o valor mais inquebrável do ser humano. A força era tal que me espantou sem lhe dizer o quanto me tem feito mal.
Apesar desta força, quero dizer-te que ele sucumbe ao pecado original. É leviano na arte do poder.

Daqui a pouco embarcas sem embarcar, mas daqui a uns dias o embarque tem toque. O medo, o inimigo da coragem, foi derrotado porque o tempo é sempre o comando.
Quero que saibas também que nunca lamentarei o trilho que fez nascer um nome que só existe em nós. O outro, o teu nome, terá o que o fado te reservar. Uma púrpura de sinais mas nunca digna da minha cavaleira andante.

08 agosto 2006

Olimpo

Olimpo
Terás tu o Olimpo dentro de ti? O que te segreda a luz que já não vês?
Imagino sempre a cortina desfeita. O pulsar impulsivo de uma imagem rasgada. É, muitas vezes, neste quadro que soletro a minha inquietude.
Ir ao teu encontro é a ironia perdida. É a ilusão do campo cheio de flores erguido na madrugada que se vai. Outrora, via este tambor como um rugido que atormentava o sussurro mais íntimo. Hoje tudo é mais clarividente. O tempo suga menos. Muito menos, Deixo-o mais vezes à sua sorte onde encontro a resposta, tantas vezes julgada perdida.