Hoje vou falar de ti.
Nunca falei porque nisto há um misto de perda e inquietude que só agora habitam em nós. É como se o farol, há custa da intensidade dos dias felizes, produzisse cera, hoje derretida pela brancura das tardes quentes. E como está quente.
Por estes dias, o teu céu está escuro. Não foste tu que o fizeste tão pouco o aprecias, contudo, bem no fundo, sabes que espelha a semente que envenena a magia.
Também por estes dias, vi esse céu. Não lhe toquei porque fiquei diminuído pela força que ostenta. Um poder, bravo, que contamina o valor mais inquebrável do ser humano. A força era tal que me espantou sem lhe dizer o quanto me tem feito mal.
Apesar desta força, quero dizer-te que ele sucumbe ao pecado original. É leviano na arte do poder.
Daqui a pouco embarcas sem embarcar, mas daqui a uns dias o embarque tem toque. O medo, o inimigo da coragem, foi derrotado porque o tempo é sempre o comando.
Quero que saibas também que nunca lamentarei o trilho que fez nascer um nome que só existe em nós. O outro, o teu nome, terá o que o fado te reservar. Uma púrpura de sinais mas nunca digna da minha cavaleira andante.